Hoje, Dia Internacional da Mulher, tenho que escrever algo, me parece… Porém, encontro nos jornais e nos noticiários da TV essa história de “feministas”. Se separarmos a época da queima dos
soutiens nos EUA e de alguns comícios pedindo certa igualdade social para as mulheres no mundo do trabalho, o que é, afinal, “feminismo”? Hoje, não tenho a mínima idéia. Naquela época foi uma novidade…Dizer que o cérebro masculino é diferente do feminino por isto ou aquilo; dizer que mulher é mais intuitiva do que o homem; dizer que (essa é nova!), mulher é menos engraçada do que homem; dizer que… e por aí vai… é uma bela asneirice à la Emilia, do Monteiro Lobato. Não quer dizer nada, não serve para nada, não ajuda em nada, porque o caminho das pedras não é por aí.
Sem pretensão de ensaio, e drasticamente resumindo o que penso, historicamente a mulher é parideira, mantenedora da raça (qualquer raça). É, em alguns povos, artesã, plantadora, etc., e não caçadora. Em outros povos também caça, enquanto os homens também plantam… Historicamente, ela tem funções relacionadas ao que hoje chamamos de “casa”, e os homens ficaram com as funções a que hoje chamamos de “políticas”. Historicamente, há grupos que misturam tudo isso.
Então, o que fica mesmo de específico é que a mulher é parideira e o homem não, apesar de sem ele não se poder parir.
Claro que a noção de “casa” mudou muito ao longo dos séculos, de modo que não está muito claro o que significa a mulher ser mais “do lar “, como gosta de dizer um amigo meu, unindo as duas expressões (“dolar”). Quando a familia – como a imaginamos hoje – surgiu, as funções femininas eram melhor delineadas, mesmo porque, se a mulher não cuidasse da casa, da criadagem quando houvesse, dos filhos, da educação deles e otras cositas más, os homens não poderiam fazer o que faziam fora de casa. Mas, isso são águas passadas. E não vale para os pobres, pois todos trabalhavam, homem, mulher, filhos…
Grandes familias, de grandes fortunas – um resto persistente da familia burguesa e sua saga – ainda mantêm, nestes tempos de neocapitalismo, esses pilares de poucos séculos atrás, e a mulher tem funções relativamente definidas. Só nesses núcleos os valores do imaginário feminino enquanto “cuidadora da familia” ainda valem. E, claro, naquelas familias que copiam a qualquer custo esse final da grande familia burguesa, e que são as “imitações pequeno-burguesas” das grandes familias.
Desculpem a linguagem aparentemente ultrapassada (burguesa, pequeno-burguesa…), mas as estou usando no sentido de raiz e não como discurso “assembleístico”.
Ora, tudo isso é para dizer que nós, mulheres, estamos à deriva quanto ao imaginário sobre nós mesmos, sobre funções, sobre feminilidade, feminismo, familia, filhos, et caterva…. Não nos iludamos! Afora os hormônios e o parto pouco sabemos de nós mesmas. E vs podem pensar que também os homens nada sabem sobre si mesmos, e eu concordo, mas não há Dia Internacional do Homem., então, vou fazer de conta que um não é espelho do outro para conhecimento mútuo, mas sabemos que são, certo?
Procuram-se novos adjetivos para a mulher. Quem procura? Homens, em geral, e mulheres que não têm consciiência crítica sobre si mesmas. Aparecem grupos “feministas” a favor do aborto, a favor da equidade em salários, na busca de apoio estatal para creches, escolas, etc., do contrário as mães não podem trabalhar. Certíssimo! Mas, por que um grupo se forma como “feminista” para tais exigências que são, na nossa época, ideologicamente corretas e universais?
Bem equiparando, imaginem o “movimento estudantil” ir às ruas para exigir que não se mate mais?! “Movimento estudantil”? Ora, é um nome que um grupo e a mídia adotam para forçar a existência de um rosto social, mas todos estaríamos dentro do tal “movimento estudantil”, uma vez que não matar é algo desejado universalmente. Nessa lógica, criar grupo “feminista” para exigências universais é um tanto incongruente … Já sei, vou sofrer pauladas por tais afirmações.
Assim, só para lembrar que os nazistas exaltaram o “Dia das Mães” nos seus discursos pátrios, e os homens de hoje criaram o “Dia Internacional da Mulher”, e se há uma ideologia clara na exaltação do primeiro (“Dia das Mães” no nazismo), pergunto qual a ideologia que está no segundo (Dia Internacional da Mulher”)? Tenho direiito à pergunta, não? Já pensaram? Eu tenho minha leitura. V tem a sua?
Sinto muito, mas minha impressão é de que há um engôdo a mais que se criou em nossa história, e é um engôdo bem forte. Tão forte que eu mesma estou escrevendo estas coisas no “Dia Internacional da Mulher”.